3 dia de quarentena.


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Evito me olhar no espelho toda vez que estou com problemas, ou seja, evito escrever.


Estou com problemas (querida eu do futuro, quem no dia 19 de março de 2020 no Brasil não possui problemas?).

Toda vez que minha mãe entra por aquela porta é um alívio imediato, logo após percebo seus movimentos, quando ela dorme analiso sua temperatura: tudo ok e vamos a mais um outro dia, que a rotina quase se repete. 

 A noite para mim tem sido a pior hora, parece que o dia se põe em meu peito e sinto o caos me tocando, a campanha do jornal é "não abrace e não beije", eu assisto filmes e novelas e pergunto mentalmente "se eu te contasse o que aconteceria daqui a alguns anos você acreditaria?", os personagens felizmente repetem o script os dado. 

Caso não tenha percebido estou melancólica, me desculpe, talvez quando você clicou o link tenha pensando em algo mais interessante, mas só estou digitando, talvez nem publique. 

assisti um vídeo onde uma italiana falava que veremos caos e beleza na quarentena: vejo em tudo, vejo nos dias que eu tocava em tudo sem se preocupar com minhas mãos, vejo beleza nos mínimos detalhes que antes eu só dizia: ROTINA, levanto ações de graça quando almoço, de forma genuína, não robótica, agradeço pelas atendentes do mercado que estão lá e que Deus as livre do vírus - tem gente no front dessa batalha.

Acho que estou escrevendo uma carta para o meu eu do futuro, se por acaso ele esqueça por um segundo o quanto parece que estamos de luzes aparentemente apagadas, se ele se esqueça por um minuto e reclame que nem um idiota do viver, sei quando se ler lembrará do que sentiu nesses dias (escrever no passado dá uma paz no coração). 

As pessoas por aqui repetem "nunca vimos algo do tipo" e de todas as vezes que expus meu peito a batalha percebo agora que era só fogo de palha, ou quase isso, recolho-me para dentro, luto de joelhos para fortalecer o coração, entendo que toda batalha custa sua própria vida, e isso é muito mais do que a vida, é tudo que nela habita e não estou pronta. 

Não são dias de férias, ninguém saí de si, pelo contrário é o tempo de se encontrar, ainda que obrigatoriamente, tenho sentido raiva de fotos tão bonitas, ainda que eu saiba que cada um tem buscado não se enlouquecer, mas as fotos bonitas, programadas, cheias de ângulos analisados tem me questionado se aquela pessoa ainda assiste jornal. 

chega, não vou mais escrever, me recuso. 

quero trazer à memória aquilo que trás esperança, juro que trarei, talvez amanhã, esse texto não tem programação.

estou viva no meu 3 dia de quarentena, isso é milagre, já que sou um sopro, quase uma flor murcha. 

todos aqui estão. 

obrigada espírito santo. 

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