têm vaga-lumes por todos os lados

Povoado de Capoeira (esse tinha um poste perto, acredite, estrada sem iluminação é um completo breu)

Numa estrada escura — sem alguma iluminação, nenhuma fresta de luz, exceto o farol do nosso carro  — entre um povoado e outro havia alguns vaga-lumes dançando entre a indevida grama alta na beira da BR. Meus olhos perderam-se ali. 

No meio da escuridão, havia pequenas, ínfimas, quase imperceptíveis, mas certeiras e realistas: luz. Tal qual se está em todo breu existencial do mundo. Lembro então de cada povoado, de cada povo não alcançado, de cada crise mental, de cada refugiado. Ali existem faíscas de luz, presentes divinos que afagam o nosso corpo recordando a esperança. 

Claramente, a poesia "A Flor e a Náusea" de Drummond diz muito a respeito disso: 

"Uma flor nasceu na rua!

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,

garanto que uma flor nasceu.

(...) Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Esse poema foi retirado do livro A Rosa do Povo, que segundo o site do próprio autor trás este contexto: “Publicado em 1945, A rosa do povo é o livro politicamente mais explícito de Drummond. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte.

O que sabemos dessa flor? Ela nasce em lugar improvável, em meio ao concreto, onde a tristeza habita e ninguém dar seu valor.  Num tempo de 1945, em que as dores da guerra estavam cegando qualquer cidadão. Então, surge algo leve, romântico, delicado, singelo ali. Surge tal qual a vaga-lumes. Tão pequeno, um presságio, em que incrédulos usam como justificativa para manter as suas crenças, sem saber que é o oposto: bendita resistência, luz sobre o monte. 

A esperança é teimosa, insistente, ressurge em cenário inapropriado para ela. Ela marca território e diz: “eu ainda estou aqui! Pronta para virar as mesas”; portanto, quando dou as costas aos povoados e vejo só breu na estrada, dar um peso no peito, me pergunto: o que está acontecendo lá? O que está acontecendo agora no Mar Egeu em que crianças atravessam o mar com seus pais e seu choro parece não ser escutado e suas lágrimas misturam-se ao mar salgado? 

Contudo, 

Há esperança, vaga-lumes brilham na estrada, dançando despreocupados, quem sabe cantando, mostrando que não perdemos o jogo. A luz sempre resplandece sobre as trevas, por isso não preciso ter medo. Cristo brilha nas trevas — e já as venceu. E voltará para reinar eternamente, essa é, sem dúvidas, a bendita Esperança.

Em meio ao caos lembre-se: têm vaga-lumes para todos os lados. 


— obrigada Espírito Santo 


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