na sombra de suas asas




Tem noites que choramos como criança, e que tudo que desejamos é o seu colo novamente, o colo de Deus é Jesus. 

Eu não sou como as outras pessoas. E nem você, que lê, é como eu. 

Me esconda na sombra de suas asas onde estou tão escondida que nem mesmo eu me acho. 

Há dias que as costas reclamam de um sobrepeso incomum, onde ela olha para os lados para tentar entender o motivo de tanta dor, mas logo descobre que é dentro que o ardor se espalha, é por dentro que se achega os temores. Não quero falar da dor do ar gélido que surge por fora.



Me esconda na sombra de suas asas onde me escondo para me expor.

Como uma criança que chora a noite toda por cólica me encontro, não sei dizer sobre minha dor, mas um bom Pai a reconhece, e põe pano quente sobre minha barriga, ou melhor, põe suas asas sobre o meu corpo todo, meu corpo fetal que não sabe lidar sequer com as letras para lhe dizer o que de fato dói e quando balbucio, tudo que desejo é o silencio da sua voz dizendo que você está vendo - seus olhos são o suficiente para o meu ser. 

Te mostro onde dói, você as tocam e eu vejo suas cicatrizes nas mãos. 

Por mais que a sol seja ideal para renovar o bronze, a chuva é torrencial, e você me pede o guarda-chuva para ser nós dois e o poder do esconderijo; dizem que a mentira é um esconderijo, mas diz isso quem nunca sentiu as tuas asas que nos encobrem em nossa verdade. A mentira é um toldo furado no meio da chuva que em vão tentamos nos proteger. 

A verdade é que anestesia tem prazo de validade. 

Os gritos sobre a cama, os zunidos ecoados de baixo do travesseiro, o cafuné e o café sobre a cama e a certeza da sua nunca ausência, me agito em todo tempo fugindo do afago que rogo a cada segundo. As contradições da vida que beiram uma piada trágica. No desejo súbito do não existir me acaricia o rosto e vela a minha existência, vela-me enquanto me encontro sob a cama. Vela-me quando tudo que desejo é a transferência de ser, conhece a jornada, se fez jornada e confia em mim. 

Como confia em alguém que nem coragem tem. Como. 

Espreguiço-me e me contorço por toda a cama, são dias difíceis, mas já me ressuscitou em dias piores. A certeza que vai passar, mas enquanto não se vai me descubro de covardia, e exponho minha casca de ovo. Sinto meu corpo quase sempre pesado para correr, mas sempre tento correr de você - vence-me pelo cansaço dessa corrida vã -  eu grito em todo tempo sussurrando que a verdade é que eu tenho medo.  Me---d---o, sou uma criança no escuro que vejo monstros onde é só o guarda-chuva atrás da porta. Cubra-me com a sombra das suas asas até que todo medo fique desabrigado.



(Obrigada Espírito Santo)

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