abrindo o coração, de novo.

        
      
       No último mês fiz um curso de escrita produzido pela Fabiana Bertotti - e olha a ironia, por isso não escrevi nada por aqui - e este me deixou concentrada na escrita de poesias, durante o processo acabei repensando sobre a idealização em torno do processo criativo, assunto o qual tem um lugar especial em meu coração, e pretendo falar  sobre isso hoje e depois mais um pouco, um tanto até encher o saco, já penso desculpas adiantada. 
       Como disse anteriormente em outro texto aqui no blog: a internet tem a tendência de romantizar coisas, ou seja, torná-las fantasiosas, ainda que a pessoa que postou não deseje isso quem está de fora enxerga tudo de uma forma tão superficial que pode gerar frustração em seu próprio coração diante dos processos. Sigo muitas pessoas envolvidas no campo da arte e consequentemente postam fotos de seus processos artísticos, e amo tanto vê-los, ahhh, como são prazerosos, uma beleza, me inspiram, mas as vezes confesso que me dá uma azia do tipo "nunca serei assim, que potencial artístico tenho?" e minha florzinha logo murcha no jardim.
         O problema é que amo acreditar em mentiras. 
        Querido leitor, ou querida leitora, precisamos parar de acreditar em mentiras, ouvir é inevitável, mas dar ouvidos, acreditar, é uma decisão (ainda que muitas vezes seja inconsciente), seguimos à luta. 
        Durante o curso intensivo me exigiu escrever como Drummond um dia disse "não por dor de cotovelo", não porque há algo transcendendo naquele exato momento, mas porque é isso que faço: escrevo, sou uma escritora - será? - e tenho um compromisso com a palavra. Eis então que surge a folha em branco e o desespero: não sai nada.  Ou, as vezes, saía, mas doía, como se eu estivesse abrindo uma porta muito louca que me deixava vulnerável a todos os tipos de coisa. E escrever não era a qualquer momento, tinha horário, lugar na casa, silêncio e voi'lá - havia uma estrutura, ordem, labor, pesquisas... Mas a arte não é feita do caos? 
          Então, de repente, como se não fosse o suficiente o processo de escrita, surgiu a insegurança: não, não, sou uma escritora, o que estou fazendo aqui? A quem estou querendo enganar? Não sou como as outras garotas que escrevem, e isso me doía a toda intensidade, ainda dói, não tenho um olhar misterioso como o de Clarice, não cruzo as pernas num charme invejável, sou muito normal para ser artista, e isso me doía para dizer que sou uma, afinal, se quer bebo café preto. As vezes durmo tão em paz que nem parece que estou criando e vejo processos criativos que a pessoa sonha, vê toda hora, no chuveiro pensa em possíveis falas, comecei a me sentir indigna no meio daqueles que sentiam a arte escorrer pelos dedos. E, quero deixar logo registrado: tenha em mente que (re)criar é um processo contínuo de se olhar no espelho.
          A vida de escritora não parecia mais um notebook aberto com uma xícara ao lado, mas mexia comigo a toda hora, me fazia me olhar diferente, foi intenso e pensei "quase ninguém fala sobre isso". Escuto, leio, sobre processos de criação e a maioria falam: seja honesto com o que faz, e acredito piamente nesse conselho, mas ninguém diz que ser honesto dói, porque vez ou outra vai precisar de uma vara curta para mexer na onça - que é você mesma, como num baú de lembranças e você precisa escolher sentimentos, cenas, ou você precisa revisar e analisar palavras, escrever é um trabalho de tecelar palavras, tecer em si muitas vezes. A nós, seres humanos, meros mortais, não existe surgir do nada, existe surgir a partir de algo e nós precisamos correr atrás de algo - os modos para isso dá um texto gigantesco também. Há muitos textos meus que surgiram "do nada", mas se parar e observa, você verá uma coisa ou outra que vivi há algum tempo e estava germinando dentro de mim, não é "do nada" aparece de um lugar, daí surge a expressão "roube de um artista" - que virou livro.
         Não quero colocar medo em ninguém, longe de mim, só não quero que acredite, como eu, em foto de instagram que criar é fácil, poético e extremamente estético para tirar uma foto - nem te conto minha situação agora para escrever esse texto - se fosse assim coitada da Carolina de Jesus, né? Meus amigos, nada na vida é fácil, não associe arte com as aulas de arte da escola que era aquele recreio fora de hora, tomem cuidado com isso, seja sincero com você e isso refletirá no texto ou em outra manifestação de si, tenha calma, produzir é se conhecer e a partir daí surgirá a dialética com o outro.

Descanse - muitas vezes esse será o seu melhor trabalho.

         Criar é um processo que te chama para muito perto e vai requerer uma coisa principalmente de você, se prepare: coragem - a arte da vulnerabilidade. E para ampliar esse conceito precisarei falar sobre essas duas palavras: "coragem" e "vulnerabilidade", coragem é "agir de coração" e vulnerabilidade é "o ato de expor onde pode ser ofendido, machucado ou tocado". Não, não é uma tortura, não é sadomasoquismo, há prazer, alegria, a arte produz saúde ao corpo, é intrínseco ao nosso ser, outra hora falaremos apenas sobre isso. 
      É realmente um processo e sei que numa sociedade onde estamos comprando tudo pronto é natural fugirmos do processo, mas, querida, ou querido, há tanta beleza aí - que não descobri toda, ainda - contudo só verá quem esperar, (ora, ora, quem diria que criar também é esperar) e me arrisco ao dizer que as vezes é como por o feijão de molho, sabe? Recentemente descobri que têm poemas meu em que preciso escrever, depois dormir, e no outro dia reler, só aí poderei corrigir, demanda tempo - stop fast food. 
        Para aumentar nossa conversa umas pequenas anotações: Para mim há um poeta que sempre me coloca no lugar: Carlos, o gaúche, e descobri que por dia ele escrevia oito horas, J.K Rowling durou quase 20 anos em seu processo de escrita com Harry Potter, há também um site chamado "comoescrevo"  que há entrevistas com vários escritores que contam como é produzir para ele, é uma oportunidade de desmistificarmos muitas coisas e vê que todos tem o seu jeito, relaxe se quem você é não é compatível com aqueles artistas. A arte é a sua coragem em expor quem é, quem somos, é o toque. 

        Poderia falar por horas a respeito desse assunto, mas por agora quero deixar as palavras descansar e por enquanto é só, obrigada você que leu, compartilhe suas ideias a respeito pelo assunto. Com carinho, Nicole de Antunes.


Obrigada Espírito Santo 
         

Comentários

  1. eu amei muito, obrigada por isso! Acredito que rever aquilo que escrevemos é como se (re)olhar, sabe? toda vez que revejo algo que escrevi eu me leio naquela época, sabe?
    e que bom que você falou disso, Ni. vulnerabilidade&coragem e vamo avante!

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    1. eu amo sua presença aqui! (até em anônimo sei que foi vc, amiga vc é uma amiga! haahaha) <3 love u

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