eu sou uma escritora

Imagem de vintage, writer, and typewriter


    enfrento a folha em branco para me declarar. 

    a palavra declarar tem vários conceitos e válido todos esses aqui: torno público, revelo partido, sentimento, manifesto-me, qualifico-me, dou-me um título, decreto e deixo cada vez mais claro - não fujo mais - eu sou uma escritora. certa vez um professor de criação fez a pergunta como disparador para o texto "quem sou eu para escrever um poema?" e no ato disse que era inevitável a não-escrita, mas de vez em quando essa pergunta se volta para mim de outras formas. 

"quem sou eu para escrever?" 
"quem sou eu para publicar?" 
"quem sou para dizer e você, quem sabe, me escutar?"

   são muitas perguntas. 

   no último mês fiz um curso de escrita no projeto escritas em trânsito com o tema "narrar – oficina de reflexão e escrita" e durante as conversas iniciais falávamos sobre nossas experiências, eu, que tenho escrito e revisado um livro, o chamei de "projeto" justificando que livro era algo muito forte, muito importante e que eu, bom, não chego perto de algo tão gerado assim - talvez, o chamasse deste modo se já houvesse alguma publicação. no momento micheliny me corrigiu de forma tão leve, que não me deu um soco no estômago, mas voou como pena que não encontra casa sobre minha mente por algum tempo. até gerar esse texto. 

  meu projeto é um livro. estou escrevendo um livro. 

  não queria escrever tanto sobre mim, mas esse tema, entre tantos que poderia dizer hoje foi como por uma pedra em algo que estava muito solto, foi como por um peso na porta que fica batendo toda hora, e em terapia precisa trazer a tona essas palavras: eu sou uma escritora - o uso do sujeito é estratégico para não mais fugir do que se é. 

  mas voltando ao que micheliny disse, foi algo parecido com "o ofício da escrita é um dos mais complicados, pois o escritor é difícil de se admitir como tal, e conforme a experiência que tenho tido na jornada é mais difícil ainda para as mulheres se assumir, mas você é um escritor, e o que você escreve não é um projeto é livro" fiz uma adaptação de sua fala, pois já se passou quase um mês e não lembro em sua totalidade. 

   não vou justificar o porquê deu ser escritora, mas retomo as palavras de duarte júnior sobre o poder da palavra, não vou me alongar sobre isso - não agora -, pense que você está num caminho escuro e de repente surge uma sombra assustadora no caminho, como você não conhece aquele caminho começa então a imaginar o que poderia ser, o corpo treme, o desejo de voltar parece ser tentador, quando por um segundo a pessoa que conhece aquele lugar, e está ao seu lado, reconhece a sombra e diz "é só uma árvore", o seu corpo se restabelece, o medo se esvai, pois a palavra organiza o caos, e transforma deste modo a realidade e então você pode continuar o caminho, uso as palavras nesse recurso - não só agora -  eu sou uma escritora, e você?

 agora vou continuar.

DUARTE Jr. Por que arte-educação? (DUARTE Jr. Campinas: Papirus, 1986.)


Com carinho, Nicole de Antunes.


                                                                                                                 Obrigada Espírito Santo

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